terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Hans o alemão

(Aeroporto do Porto, onde cheguei)


Capítulo 1

Cheguei a Portugal num dia ensolarado, brilhante, como eu raramente tinha tido oportunidade de ver. É certo que era ainda uma criança e, como tal, não tinha tido oportunidade de observar com atenção o mundo que me rodeava. Mas, a verdade, é que fosse pela ansiedade que sentia ou até pelo medo de andar naquele grande avião, sozinho (embora ao cuidado de pessoal muito gentil), sentia-me muito mais esperto do que habitualmente captando todos os pormenores do ambiente que me rodeava.

Sou alemão, de Berlim, e a minha vinda para cá foi fruto de umas “negociações” familiares que, talvez mais tarde venha a descrever e tinham por objectivo potenciar as minhas oportunidades de singrar na vida. Iria viver em casa daquela que viria a ser a minha família de adopção, provavelmente (assim o esperava) para sempre. Não é, portanto, de estranhar o meu estado de atenção apurada, bem como a inquietação e, confesso, o medo que eu procurava, talvez em vão, disfarçar.

Bom, mas estava eu ainda no aeroporto quando vejo uma senhora, baixinha, gordinha, com um ar bem-disposto, aproximar-se de mim, fazer-me uma grande festa dizendo:

- Então tu é que és o Hans! És muito giro sabes?

Fiquei um pouco acanhado com todo aquele à-vontade e aquela forma descontraída de me passar a mão pela cabeça, a mim, a quem ainda nem sequer tinha visto nunca… Todavia, confesso que fiquei também vaidoso (enchi até o peito de ar e ergui bem a cabeça) porque a senhora me achava giro.

Passado este momento algo constrangedor do primeiro encontro lá fomos ambos para o carro que me levaria a casa e para junto das pessoas que iriam ser a minha família. Ia calado, reservado e, penso que todos devem entender que o caso não era para menos.

Em compensação, a dita senhora, foi todo o caminho a conversar, a despentear-me, a rir-se, a fazer comentários à minha voz fininha (das poucas vezes que eu abri a boca) enfim, numa boa disposição que fazia inveja a qualquer um e que se destinava, julgo eu, a descontrair-me. Mas, confesso que me tornava até um pouco mais apreensivo, teria eu “pedalada” para toda esta boa disposição? Iria eu corresponder ao que esperavam de mim?

E como seriam as pessoas que ainda faltava conhecer?