terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Hans, o Alemão


(Imagem: "Freedom versus Fear" by Athelo)

Capítulo 6

Pois é, há sempre um dia na vida que pode virar tudo do avesso. O meu calhou a um domingo em que estávamos todos sentados a conversar, junto à lareira, e em que a Carlota, muito dengosa e a fazer-se a uns miminhos se sentou junto à mamã.

Esta, uma senhora muito arguta, olhou para ela com redobrada atenção e exclamou:

- Carlota! Tu não estás gorda, tu estás grávida!

A frase caiu como um meteoro na sala silenciando todas as conversas.

Mas a Carlota enfrentou corajosamente a senhora. Aliás, mais do que isso, não manifestou o mais pequeno indício de preocupação mas, a verdade é que eu não sabia onde me havia de meter. Estava assustado e intrigado. Entendia que deveria enfrentar tudo e todos indo assim em defesa da minha dama. Esta, por outro lado, estava perfeitamente tranquila, com os olhos semicerrados sem parecer que fosse lá o que fosse que se estava a passar tivesse nada a ver com ela e sem precisar minimamente de ser defendida. E eu ali, assim, sem saber mesmo que fazer.

Estava eu nesta aflição, uma mescla de medo e tentativa de ser audaz, quando percebi que não era de zanga a expressão da senhora do sorriso simpático.

Estava surpreendida, é certo, mas risonha, acarinhando o mais possível a Carlota, fazendo-lhe perguntas acerca do seu bem-estar, das suas necessidades, combinando visitas ao médico, etc.

Com as coisas a correr desta forma comecei também eu a ficar um pouco mais calmo e, orgulhoso e, claro, fui-me aproximando de ambas.

Mas, para mim, afinal a situação não era idêntica.

Com muita meiguice e de forma muito ternurenta, a “mamã” mandou-me sentar ao seu lado e comunicou-me que eu ia ser pai o que, francamente, já tinha percebido, não sou propriamente burro. Mostrei-me, obviamente, radiante e ciente das minhas responsabilidades.

Porém, a conversa não havia terminado e, ainda com doçura mas de forma muito firme, avisou-me que a partir de agora, eu iria ter que ficar separado das meninas e ir para os aposentos dos meus amigos mais velhos, os rapazes da casa, não fosse o diabo tecê-las e haver mais algum deslize com qualquer outra. A verdade é que era um pouco disputado por todas elas. De formas diferentes, é certo, mas não me passavam despercebidas as suas subtis investidas.

Mas, para mim, naquela época, existia apenas a Carlota! E ia ficar separado dela! Ver-nos-iamos, é certo, vivíamos na mesma casa, mas sempre de longe ou na companhia de todos.

Como devem imaginar fiquei completamente devastado pela separação a que me vi obrigado. Estava muito bem instalado, é verdade. Ocupava, finalmente, a suite que me havia sido atribuída desde início; assim uma espécie de apartamento de rapaz solteiro, mas a verdade é que nem todas essas mordomias me animavam.

Foi um tempo triste para mim. Por um lado sentia-me um adulto, o que era bom. Deixara há muito as minhas inseguranças de jovem adolescente para trás e hoje era um adulto bem sucedido. Dava-me bem com a restante rapaziada e passámos momentos agradáveis. Todavia, lá bem no fundo, nunca deixei de sentir aquela pequena aguilhoada no peito que nos faz encolher: a saudade.

A Carlota, a minha amiga, a minha companheira, fazia-me falta.

4 comentários:

ruth ministro disse...

Caramba, que isto foi rápido, o rapaz não brinca em serviço! :)

Um beijinho e um sorriso :)

Donagata disse...

E é que não brinca mesmo. tem ar de panunfas mas é tiro e queda.

wallper.lima disse...

Bom depois de tanta bajulação, e envolvimento, só podia dar nisso!
Agora que eu quero ver...pois acho que está aí o fio da meada.
Beijinhos coloridos.
Wal.

Homem de Ferro disse...

O Texto esta Maravilhoso ...
Os Comentarios estao Divinais , fazem-me sorrir ... :) ...

O Meu MUITO Obrigado !!!

Beijo , A.B.