Capítulo5
Contudo, tornara-me um adolescente interessante (diziam), de aspecto imponente e bastante invejado, devo dizer.
Aprendera a comportar-me como era devido e a minha educação continuava de vento em popa bem como os meus bons resultados aquando dos exames a que era submetido.
Continuava a dar-me bem com todos lá em casa, mas, a verdade, é que o meu relacionamento especial com a Carlota se tornou mais especial, tendo evoluído por um caminho que nenhum dos dois entendia muito bem.
Só estávamos bem um com o outro, se alguém se entrepunha sentíamos uma irritação esquisita que agora entendo serem ciúmes, Ora estávamos uma doçura, ora nos tornávamos quezilentos e insuportáveis um para o outro sem mesmo sabermos porquê. Apesar disso, eu não conseguia tirar do meu pensamento aqueles olhos verdes, lindos e expressivos que me faziam sonhar. E para ser verdadeiro, julgo que ela também pensava em mim.
Andávamos nesta inquietação até que, para a Carlota, muito mais perspicaz do que eu, diga-se, se fez luz: estávamos apaixonados!
É verdade. Eu era novito mas precoce!
Lá fomos aguentando este estado de coisas o melhor que pudemos, sem que ninguém se desse conta do sentimento que nos consumia. Até que, o inevitável aconteceu.
Ficámos ambos assustados, sem saber bem o que pensar, o que fazer, mas ao mesmo tempo tão felizes, tão radiantes, que tivemos alguma dificuldade em nos controlarmos o que era absolutamente imprescindível. É que nessa altura eu julgo que a Fiona já andava com a pulga atrás da orelha (salvo seja).
Os dias foram passando e nós neste estado de espírito que vogava entre o céu e as nuvens; tão felizes!
Como digo, tudo corria de vento em popa e eu, nessa altura um belíssimo adolescente já crescidote, achava que tinha tudo controlado e que a minha vida iria girar sobre rodas na companhia da Carlota para todo o sempre.
Até que um dia, a tal senhora bem-disposta (agora a mamã) que, não sei se ainda se lembram, me foi buscar ao aeroporto (Havia já tanto tempo!), enquanto trocava umas impressões com a Carlota, achou-a um pouco diferente. Linda, como sempre mas mais gordita. Claro que a aconselhou a ser mais cuidadosa com a alimentação pois, uma jovem como ela, ainda por cima lindíssima (possuidora, insisto, do par de olhos verdes mais bonitos e mais expressivos que algum dia vi), não se podia desleixar.
Ao contrário do que era habitual a Carlota não respondeu o que era uma situação quase inédita. Até se dizia lá em casa em relação a ela e quando a queríamos atazanar um bocado: “ Contigo, vai mais depressa um pobrezinho sem esmola do que sem resposta”.
Embora tenha estranhado o seu pouco habitual mutismo, não lhe atribuí verdadeira importância tal era o meu enlevo. Aliás, achava um exagero da mamã. A Carlota não estava nada gorda, estava linda, como sempre.
E o tempo lá foi correndo.
Até um dia!