quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Hans o alemão

(Começa aqui)

(Imagem: Suported-painting by Erika Hastings)

Capítulo 3

Enfim, fui um poço de mimos. Todas me queriam agradar de todas as formas possíveis e imaginárias. Antecipavam as minhas vontades mesmo ainda antes de eu sonhar que as viria a ter, aconchegavam-me os cobertores, reservavam-me o melhor assento, o melhor pedaço da refeição, cuidavam do meu aspecto, ensinavam-me novas maneiras, novas posturas. Sentia-me um príncipe. Até já nem me incomodava que me chamassem Bebé!!!

Foi aqui que eu percebi que, ou me enganava muito, ou tinha tido a maior sorte do mundo. É que embora de educação teutónica, um tanto rígida em que os sentimentos não se evidenciam por dá cá aquela palha, o que eu queria era todos estes mimos e atenções que me dispensavam, perante os quais, eu me derretia indecentemente. Nem quero imaginar o que diriam o meu pai ou a minha mãe se me vissem nestes preparos, afinal eu sou um Av Fagger!

Embora ao cuidado das três beldades lá de casa, não quer dizer que os restantes não se debatessem para cuidar de mim, para me mimar, para conversarem longamente comigo enquanto eu preguiçava ao seu lado no sofá. Estavam sempre atentos aos mais ínfimos pormenores. Até me liam poesia! A tal senhora gordita que agora já não era a “a tal senhora gordita” era a mamã.

Bom, era mimado até à exaustão. Confesso que, apesar de todo esse mimo, não era meu hábito perder a compostura. Enfim, poderemos condescender aqui numa meia duzita de excepções… Mas nada de muito relevante ou especialmente vergonhoso, julgo eu…

Com este tratamento, podem imaginar que não me foi nada difícil adaptar-me à minha nova casa e à minha nova família. Confesso que até já nem tinha lá grandes recordações da minha vida anterior. Era também muito novinho quando a deixei.

Contudo, de vez em quando, vinha-me à memória uma voz doce e um olhar brilhante, azul, que me deixava um friozinho na barriga. Julgo que seriam lembranças da minha mãe, Tora-ViK, uma verdadeira beldade e que, por isso mesmo, não pudera continuar a cuidar de mim. Era uma vedeta!

Quando isso acontecia e o meu olhar se turvava um pouco, era imediatamente assaltado pelas minhas guardiãs que me faziam, com as suas brincadeiras, espalhar os pensamentos mais tristes.

3 comentários:

ruth ministro disse...

Que história tão ternurenta. Até agora, foi um prazer de se ler.
E além disso, o papel de gato assenta-lhe como uma luva :)

Mil beijos

as velas ardem ate ao fim disse...

Uma ternura!

um bjo

Anónimo disse...

Dá gosto ler esta história :)

Beijo , Anibal Borges .