Capítulo 7
O tempo foi passando e a Carlota, que eu agora via muito raramente e apenas de longe, estava pesada, barriguda, mas linda como só ela era.
A “mamã”, aquela senhora baixinha e simpática (que eu já tinha achado muito mais simpática, devo dizer), não tirava os olhos dela acompanhando-a constantemente nos seus passeios e organizando-lhe o quarto com tudo o que eventualmente fosse necessário para o momento crucial que rapidamente se aproximava.
Eu andava cada vez mais nervoso e agitado. Tentava conversar com os amigos, distrair-me, aprender coisas novas, mas nada parecia resultar.
Até que uma bela manhã (era bela de qualquer maneira embora não faça a mais pequena ideia se estava bonita ou cinzenta), a mamã me foi acordar e me trouxe ao quarto dela onde me deparei com a cena mais maravilhosa que algum dia possa ter imaginado. A Carlota estava deitada na sua cama, linda como sempre embora com um ar um pouco fatigado e, junto dela, meio perdidos no meio do seu sedoso pelo encontravam-se quatro lindas criaturas, indefesas, totalmente dependentes, que se agarravam à mãe desesperadamente, tentando alimentar-se. A mãe, sempre serena, aconchegava-os, lambia-os, empurrava-os gentilmente para os mamilos disponíveis, e apresentava-os orgulhosamente para que pudessem ser vistos: Os meus filhos!
Percebi que tinha dois meninos e duas meninas cada um mais lindo do que o outro. Nesse dia e em alguns outros seguintes, pude ficar junto da Carlota partilhando com ela, muito desajeitadamente, devo dizer, as obrigações de um chefe de família.
Estava orgulhosíssimo! Quando vinha para o meu quarto pavoneava-me indecentemente vaidoso perante os meus amigos como se ser pai fosse algo que só eu tinha tido o privilégio de ser.
Bom, o tempo foi passando, os bebés foram crescendo tornando-se cada vez mais bonitos mas também mais irrequietos e todas as atenções eram poucas para evitar acidentes.
Quando começaram a descer as escadas, sempre com a supervisão da Carlota, a minha e, sobretudo a dos elementos humanos lá de casa, verificámos que algo de estranho se passava com a que fora sempre a mais pequena e tinha uma caudinha toda enroladinha em vez das caudas imponentemente compridas dos irmãos, a Luna. Sempre tinha constituído motivo para uma certa apreensão o facto de ter nascido com aquela estranha cauda, mas que agora não conseguisse descer as escadas, caindo constantemente quando os seus irmãos o faziam com toda a facilidade, isso era mesmo preocupante.
(A Luna)
A mamã, sempre atenta, suspeitou que alguma coisa não estivesse bem com ela. Ia buscá-la lá a cima para acompanhar os irmãos ou ela cairia e ficaria a chorar sem saber o que fazer no meio da escada. A Carlota, não lhe ligava muita importância e deixava-a ficar a miar. De princípio estranhei a atitude tendo-a achado até de uma grande insensibilidade e, por vezes, ia lá eu buscá-la. Contudo verifiquei que a Carlota não ficava nada satisfeita e eu levava sempre um raspanete. Percebi mais tarde que a mãe estava a tentar incentivá-la a perder o medo, porque era de medo que a Carlota julgava tratar-se.
Contudo, a tal senhora simpática, verdadeiramente simpática e cuidadosa de quem certamente se lembram, estranhou que este comportamento se mantivesse e há que levar as crianças e a mãe ao médico.
1 comentário:
Ola Sra Donagata .
Que Maravilha de Texto , as suas descriçoes fizeram-me Rir com Ternura ... que Maravilha !!!...
Só mesmo isto para me fazer Sorrir nestes dias ... nestas noites !...
Obrigado !
Beijo , A.B.
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